Em recente publicação denominada Demografia Médica no Brasil 2023, coordenada pelo professor Mário Scheffer, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP, foi traçado um importante panorama do número de médicos atuantes em nosso país e o aumento da densidade desse profissional de acordo com a população brasileira. É importante conhecer algumas conclusões dessa publicação e perceber pontos importantes para o setor da saúde.
Em janeiro de 2023, o Brasil contava com 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que correspondia à taxa nacional de 2,60 médicos para cada grupo de 1.000 habitantes. O Governo Federal tem como referência o modelo inglês, que conta com o número de 2,7 médicos para cada grupo de 1.000 habitantes. Países como EUA (2,6), Canadá (2,7), Japão (2,5) e Coréia do Sul (2,5), têm índices próximos à taxa brasileira.
Nesse cenário, em termos de densidade por Estado, a situação não é tão tranquila. A região Norte conta com 1,45 médicos por 1.000 habitantes e o Nordeste, com 1,93. Ambas as regiões têm taxas abaixo da nacional. Com exceção da Paraíba, os demais 15 Estados que compõem essas duas regiões têm menos de 2,4 médicos por 1.000 habitantes.
A região Sudeste, com um índice de desenvolvimento humano superior às regiões Norte e Nordeste, apresenta uma taxa de 3,39 médicos por 1.000 habitantes, seguida do Centro-Oeste (3,10) e Sul (2,95). A região Norte registra menos da metade da densidade de médicos do Sudeste.
O Distrito Federal, com 5,53 médicos por 1.000 habitantes, tem a maior taxa do país, seguido de Rio de Janeiro (3,77), São Paulo (3,50) e Santa Catarina (3,05). Por outro lado, dez unidades da Federação contam com menos de dois médicos por 1.000 habitantes, entre elas Acre (1,41), Amazonas (1,36), Maranhão (1,22) e Pará (1,18), que registram as menores densidades.
Em pouco mais de duas décadas, desde 2000, quando o Brasil contava com 219.896 médicos, o número de profissionais mais do que dobrou. No mesmo período, a população geral do país cresceu cerca de 27%. Entre 2010 e 2015, a taxa de crescimento de médicos foi de 25,1% e a da população, de 5,1%. Entre 2015 e 2020, a taxa de crescimento dos médicos foi de 24,7%, enquanto a da população foi de 4,8%.
Mesmo considerando o curto período de 2020 a 2022, a taxa de crescimento do número de médicos foi de 8,6%, quase cinco vezes maior do que a população nos mesmos anos, que foi de 1,6%. Quando comparados ao ano de 2020, os dados projetados para 2025 estimam uma taxa de crescimento de médicos de 30,7% e, a da população geral, de 3,1%. Isso equivale dizer que o número de médicos aumentará em um percentual 10 vezes maior que o número de habitantes do país. Saltamos de 181 cursos de medicina em 2010 para 350 em 2020, segundo dados do INEP.
Em conclusão das informações acima, podemos perceber que (i) há médicos suficientes em nosso país, com índices próximos de países desenvolvidos, se considerar o número de profissionais pelo número de habitantes; (ii) Estados cujo IDH é menor, contam com número de médicos inferiores à média nacional; (iii) a falta de infraestrutura e a insegurança são fatores desmotivantes para a migração de profissionais para as áreas menos favorecidas; (iv) o aumento desordenado do número de cursos de medicina poderá gerar um excesso de profissionais, contribuindo ainda mais para a depreciação dessa atividade profissional.
*Artigo publicado por Valério Ribeiro na edição nº392 da Revista Em Voga.
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