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22 de julho de 2025

Ainda sobre Demografia Médica – Desafios e Propostas para a Equidade no Acesso à Saúde

A distribuição de médicos no Brasil é um tema central para o planejamento de políticas públicas de saúde e a garantia do acesso universal aos serviços médicos, dentro do sistema tripartite de saúde que envolve as três esferas de descentralização política; União, Estados e Municípios.

A chamada “demografia médica“, por sua vez, descreve a análise do número, perfil e distribuição dos profissionais de medicina no país e nos revela disparidades significativas entre as diferentes regiões brasileiras.

De acordo com os dados mais recentes do estudo “Demografia Médica no Brasil” publicado pela Universidade de São Paulo (USP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Brasil possui uma média de 2,6 médicos por 1.000 habitantes. Embora esse número esteja em crescimento contínuo nas últimas décadas, ele ainda esconde desigualdades marcantes.

Em 2024, as capitais tinham média de 7 médicos por mil habitantes, enquanto o interior ficava abaixo de 2 por grupo de 1.000. Vitória (ES) é a capital com o maior número de médicos, contando com 18,5 profissionais por grupo de 1.000. Porto Alegre 11,8, Florianópolis 10,5, Belo Horizonte 9,98 e Recife 9,72 também se destacam pelo número elevado de profissionais. A capital com maior número absoluto de médicos é São Paulo, com cerca de 80.834 médicos, mas com densidade de 6,8 por 1.000 habitantes, ocupando apenas a 12ª posição em relação ao indicador per capita. No interior do Amazonas, há localidades com apenas 0,20 médicos por mil habitantes, mostrando extremos de disparidade.

A região Sudeste concentra a maior parte desses profissionais, com destaque para estados como São Paulo e Rio de Janeiro, que sozinhos reúnem uma grande proporção de médicos do país. Por outro lado, a região Norte apresenta os piores índices de cobertura médica, com estados como o Amapá, Acre, Maranhão e Pará figurando entre os que têm menos médicos por habitante. Nessas áreas, a média pode ser inferior a 1,5 médico por 1.000 habitantes, dificultando o acesso da população aos serviços de saúde básica e especializada.

 


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Esse desequilíbrio na distribuição é resultado de múltiplos fatores, como a maior concentração de faculdades de medicina e infraestrutura hospitalar nas regiões mais desenvolvidas, além da preferência de muitos profissionais por áreas urbanas com melhores condições de trabalho, remuneração e qualidade de vida.

Para levar a medicina aos locais mais distantes, especialmente às áreas rurais, indígenas ou ribeirinhas, é necessário o fortalecimento de políticas públicas estruturantes e duradouras. É fundamental pensar em políticas de Estado de longo prazo.

Entre as propostas mais relevantes estão a criação de incentivos de carreira e valorização profissional, como planos de carreira no SUS, salários compatíveis e melhores condições de trabalho no interior. Uso de tecnologias de saúde digital, como a telemedicina, para ampliar o acesso à consulta e ao acompanhamento médico mesmo em áreas remotas. Integração entre ensino, serviço e comunidade, fortalecendo a Atenção Primária à Saúde e promovendo o vínculo do médico com a realidade local.

Enfrentar as desigualdades da demografia médica no Brasil é um passo essencial para a consolidação de um sistema de saúde mais justo, eficiente e verdadeiramente universal e distributivo. Para isso, é preciso compromisso político, investimento contínuo e planejamento estratégico que transcenda governos e se firme como uma verdadeira política de Estado.

 

Artigo publicado por Valério Ribeiro na edição nº420 da Revista Em Voga.

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